Um século atrás, um cometa se chocou com a Terra, afirma um novo estudo sobre o evento de Tunguska, a explosão que destruiu mais de 2.000 km2 de floresta na Sibéria em 1908. A conclusão, defendida agora por geocientistas dos EUA, saiu de uma comparação entre os recentes lançamentos de ônibus espaciais e a explosão do cometa há 101 anos, o bólido se desintegrou no ar vários quilômetros antes de chegar ao solo, devido ao atrito com a atmosfera.
A inusitada semelhança entre cometas e espaçonaves, dizem os cientistas, é que ambos podem desencadear a formação de um tipo especial de nuvem. São as chamadas nuvens noctilucentes --visíveis à noite por surgirem em baixas temperaturas a grandes altitudes e abrigarem partículas com cristais de gelo brilhantes.
Árvores derrubadas na explosão de Tunguska, em 1908; cometa se chocou com a Terra e destruiu mais de 2.000 km2 de floresta
Como cometas possuem alta proporção de gelo em sua composição, o impacto de um deles com a Terra liberaria uma enorme quantidade de vapor de água a grandes altitudes (até 85 km) devido ao superaquecimento causado pelo choque.
E ônibus espaciais fazem o mesmo: por usarem hidrogênio e oxigênio como combustível, liberam até 300 toneladas de vapor d'água cada vez que decolam para o espaço, fruto da reação química que gera energia para seus propulsores.
Como nuvens noctilucentes haviam sido vistas em 1908 um dia após o evento de Tunguska, alguns cientistas já haviam proposto a hipótese do impacto de um cometa. Uma coisa, porém, estava mal explicada: elas haviam sido observadas no Reino Unido e arredores, não na Sibéria. Nenhuma teoria explicava como nuvens poderiam viajar tão rápido a distância entre esses dois lugares.
No estudo divulgado ontem, liderado por Michael Kelley, da Universidade de Cornell (EUA), uma explicação para isso finalmente é apresentada. Ao observar a formação de nuvens desencadeadas por lançamentos de ônibus espaciais, os cientistas descobriram que as nuvens noctilucentes se espalham na superfície da atmosfera por um fenômeno chamado "turbulência bidimensional".
Segundo Kelley, a mesma coisa é o que acontece na superfície de uma xícara cheia. "Se você joga um pouco de creme no centro do seu café, logo ele vai se espalhar por toda a superfície", explicou o cientista.
Segundo ele, isso acontece porque redemoinhos superficiais são mais poderosos que os profundos. "Em turbulência 2-D, redemoinhos aumentam com o tempo. Em 3-D, eles apenas se reduzem."
Segundo o pesquisador, a ideia que deu origem para o estudo surgiu um ano e meio atrás, quando ele assistiu ao lançamento de um ônibus espacial pela primeira vez.
"Assim que o vi, eu tinha a solução", diz. Ele reconhece, porém, que teve um pouco de sorte, já que ônibus espaciais não liberam vapor d'água durante todo o percurso de decolagem, só nos propulsores acionados mais no alto. "A mágica é que a espaçonave entra em ignição na mesma altitude em que o cometa se desintegra."
Fonte: (1)
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